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O impacto da crise da habitação no emprego

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O impacto da crise da habitação no emprego

       O emprego e o ecossistema empresarial estão diretamente relacionados com a qualidade de vida dos trabalhadores, as suas expectativas e ambições, a sua estabilidade e concretização pessoal. Não podemos ter empresas felizes sem trabalhadores felizes, não podemos ter índices de produtividade elevados sem compromisso, empenho e dedicação... e não podemos ter esse compromisso, empenho e dedicação oriundos de pessoas expectantes e instáveis, sobrecarregadas e medrosas com o dia de amanhã. Há, portanto, uma relação direta entre a produtividade, a felicidade e a estabilidade. 

       Neste contexto, a habitação surge como um dos elementos estruturantes deste conceito social do século XXI, não necessariamente porque “quem casa quer casa”, na medida em que o casamento não é a instituição necessariamente dominadora do ecossistema familiar, mas porque a casa é um passo inevitável de independência, de evolução, de crescimento pessoal e social. Faz sentido. Há uma ligação intrínseca entre o espaço e o conforto, entre aquilo que é o pedaço do mundo parametrizado por nós, para as nossas necessidades e a sensação de que há um sítio onde podemos sempre voltar... sozinhos ou com a nossa família, não importa, tem de existir sempre um sítio nosso.

       Hoje vemos esse parâmetro ameaçado por um crescimento galopante do preço da habitação. Numa primeira análise, a nossa tendência é pensar que temos de criar medidas impositivas que obriguem o mercado a regular os preços. Do ponto de vista económico e, por sequência social, não haveria nada mais dramático e errado a fazer neste momento. O problema da habitação é um sinal da evolução paradigmática das dinâmicas territoriais. A conjugação do aumento do fluxo turístico e da captação de investimento tem um efeito galvanizador na economia, mas tem o reverso da medalha de potenciar o aumento dos preços, não com base no aumento do poder de compra nacional, mas sim do poder de compra estrangeiro. Não estou com isto a dizer que deveríamos ser protecionistas em relação a um ou a outro fator, estou apenas a constatar que as opções estratégicas do país e das cidades têm de ter isto em linha de conta. Por outro lado, temos uma redução substancial da construção na última década. A evolução natural será a de criar condições para que a expansão populacional seja supramunicipal (vale a pena pensarmos o território e a sua organização), seja encarada do ponto de vista regional de forma a criar condições para que as pessoas vivam em zonas mais periféricas, onde a pressão imobiliária será menor e os preços mais acessíveis. O tema central da resolução desta problemática está na mobilidade. Criar condições de mobilidade regional de forma que as pessoas se possam deslocar, a preços equilibrados, entre municípios, será um fator fulcral para uma evolução que só não foi acautelada, por décadas de más decisões políticas e falta de visão, dos municípios e dos governos centrais. Isto não é alquimia, é pragmatismo e observação conjuntural.  

       As empresas precisam de ter condições para criar condições aos seus trabalhadores. Atualmente, no cenário que temos em Portugal, não é possível pagar salários que comportem rendas ou empréstimos astronómicos para imóveis centrais, até porque as empresas e os trabalhadores têm um “sócio” que lhes leva, literalmente, metade do que auferem... o Estado. É, no entanto, possível criar uma política de mobilidade que permita melhores condições de vida para as pessoas e seja, em simultâneo, um fator de desenvolvimento regional na medida em que criará dinâmicas económicas e sociais em áreas, tradicionalmente, menos desenvolvidas com a fixação de pessoas nesses mesmos locais. Para isso, teremos de deixar a visão pequena, redutora e politicamente oportunista dos concelhos como ilhas e desenvolver estratégias regionais integradas. 

       Pessoas felizes são empresas felizes, empresas felizes são o motor de uma economia pujante e próspera e uma economia assim é estabilidade para todos, sobretudo para as gerações futuras. Numa palavra: é legado. 

 ramirobrito
Ramiro Brito (CEO Grupo Érre)
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